Em maio de l975 quando Pe. Higino Latteck ( 1905/1983) , então pároco de Recreio, pela segunda vez, completava os seus 45 anos de sacerdócio, O JORNAL DE RECREIO prestou-lhe uma homenagem, entrevistando-o. Por ocasião das homenagens que recebeu em setembro de 2009, achamos oportuno relembrar e demos início na edição de agosto (O JR-Minas 578) à publicação da entrevista de l975 . Na edição de nº 579 publicamos a segunda parte que focaliza o seu trabalho de pároco e sua participação na Grande Enchente de Abaíba (em l948). E na edição de nº 580 publicamos a terceira e última parte da entrevista. Agora publicamos na íntegra a entrevista em nosso site.
PADRE HIGINO: 45 ANOS DE SACERDÓCIO
(Título original , publicado na página 2 da edição 79 , de 3l/05/1975, em O JORNAL DE RECREIO,Minas ) *
Pe Higino nasceu em Insterburgo, Prússia Oriental, hoje sob o domínio russo* , em 31 de março de 1905 . Veio para o Brasil em 1940, ficando os sete primeiros anos em Mato Grosso, entre os índios, em Dourados, hoje progressista cidade.
"Ali por perto encontra-se a famosa Laguna, palco do romance RETIRADA DA LAGUNA de Taunay, onde já andei muito a cavalo."
O JR - Onde o Sr. ordenou e fale sobre a sua vida daquele tempo ?
PE. HIGINO - Ordenei em 1930 numa cidade hoje pertencendo`a Alemanha Ocidental -- Frankfurt. Naquela época eu sempre lidava com jovens, e por isso sempre perseguido pelos nazistas.
Em 1939 fui para a Iugoslávia , antes da guerra , em 1940, cheguei aqui no Brasil, no último vapor italiano CONTE GRANDE.
O JR - Como o Sr. viu que tinha vocação para o sacerdócio?
PE. HIGINO - Sempre senti isso implantado por minha mãe e cultivado depois pelo vigário de minha cidade.
O JR - Então foi influência materna ?
PE. HIGINO - Não, nunca falou para eu ser padre. Ela falava que era bonito aliviar o coração das pessoas, trabalhar como missionário. Ela sempre falava assim: " Eu não quero intrometer... se você acha mesmo... " Eu via tudo isso que ela falava vivido pelo vigário de minha
cidade.
Nós éramos 500 católicos entre 40 mil protestantes. Em nossa paróquia, até 1935, já havia sido ordenado 4 padres.
Eu estudei primeiro num ginásio tipicamente protestante.
O JR -O trabalho do Sr. no Brasil.
PE. GHIGINO - Primeiro em Dourados ( 1940/1947) . Apanhei maleita e paratifo lá em Mato Grosso. D. Delfim, Bispo de Leopoldina, soube disso e me convidou para me tratar em Leopldina. Em Leopoldina fiquei 1 ano no ginásio como vice-diretor. Depois vim para Recreio, 7 anos ( 1948/1955).
Depois fui para Nova Friburgo para tomar conta dos alemães imigrantes. Isso em Friburgo, Teresópolis e Petrópolis. Além disso em Friburgo fui vigário na Paróquia com a Igreja Santa Terezinha e várias capelas. Professor da Faculdade dos Jesuítas, lecionando Cultura Religiosa, Direito Canônico, Lógica, História da Filosofia, Ética ( 1958/1968).
Em Friburgo fui chamado pelo amigo e conterrâneo Pe. Humberto a Itaperuna, pois ele não estava podendo tomar conta da paróquia devido a um acidente horrível. Desastre automobilístico. Cinco anos em Itaperuna com 2 paróquias e 16 capelas. Devido à posição extravagante do Bispo deixei Itaperuna e imediatamente fui aceito na Diocese de Leopoldina. Daí vim para Recreio, para substituir o Pe. João.
O JR - Fale sobre a enchente de Abaíba, de 48. O Sr. teve uma participação ativa.
PE. HIGINO - Da primeira vez que eu vim para Recreio, cheguei aqui em julho, e em l5 de dezembro caiu uma tromba d'água , às 6 horas da manhã, em Abaíba. Assim que fiquei sabendo dessa calamidade fui até a pracinha, tocando uma campainha, chamando a todos. A multidão começou a aproximar e eu falei para eles sobre os flagelados. Que precisávamos levar auxílio a todos de Abaíba. Nadinho, Carcacena, Araújo, Lacerda e muitas outras casa comerciais e o povo em peso ofereceran e deram roupas, cobertores e alimentos .Tudo aquilo foi colocado numa carroça, bem protegido da chuva, pois continuava serenando. O carroceiro só podia sair às 6 horas. Quando deu 6 horas da noite o tempo estava bem escuro. Quando chegamos no caminho caiu a terceira enchente sobre Volta Grande.e pegamos a extremidade dessa enchente. A água vem vindo em nossa direção e a água subiu até a carroça , em caminho aberto. Eu e o carroceiro pulamos da carroça e subimos um morro, perto da fazenda de Caratinga. Ali pelas 11 horas da noite a água abaixou, a chuva abrandou,nós pudemos voltar para Recreio.
Algumas horas depois, o povo de Abaíba encontrou a carroça com os agasalhos e o alimento. E eles mesmo empurraram a carroça e levaram-na no meio de lameira para Abaíba.
Cheguei em casa e ao tirar a batina -- naquele tempo a gente usava a batina -- foi aquela lagoa quando a batina caiu no chão. Morrendo de sono caí na cama. No outro dia fui celebrar missa sem batina.
O JR - Como vai indo os trabalhos de construção da torre da Matriz ?
PE. HIGINO – Estamos aí com as obras da da igreja, muita gente achou que a igreja não estava parecendo com igreja. Não parecia, né ? Então, mãos às obras. Novo telhado , mais forte, passeio em redor da igreja, reforma das paredes por fora e por dentro, apesar de várias e fortes dificuldades.
O mês de maio vai dar um total mais ou menos de 20 mil cruzeiros* . Há uma crítica que as obras estão demorando.Eu só peço para considerarem que nada se faz sem o beneplácito do engenheiro que já fez construções maravilhosas em Niterói e em várias outras cidades do Rio.
Portanto as obras são demoradas porque são feitas conscienciosamente. Eu só quero que os críticos vão verificar as obras. Em todo caso aceitamos bons conselhos de bom grado.
O relógio está praticamente doado por um deputado, o Fagundes Netto.
O JR - O Sr. não esperou completar os 50 anos de sacerdócio.
PE. HIGINO - Antes de falar sobre isso, eu quero lembrar aqui que o Sr. Bispo nos honrou com a sua presença , concelebrando Missa comigo e apreciando o novo aspecto do interior da Igreja Matriz Menino Deus, e ficou até muito entusiasmado com o projeto de construção da nova matriz.
É muito difícil um padre alcançar 50 anos de sacerdócio, por isso muitos de nós celebram os 45 anos de sacerdócio, não esperando chegar os 50. O povo rezou por mim e prometeu fielmente dar apoio às obras da igreja.
O JR - Sabemos que a construção da Matriz é um de seus sonhos. Até quando vão os trabalhos ?
PE. HIGINO - Pelo menos até a altura do relógio queremos chegar ainda este ano.
O JR - Como o Sr. vê os fiéis da Paróquia de Menino Deus ?
PE. HIGINO - O povo se reanimou dentro de dois anos do Pe. João Beentjes e Pe. Higino. É um sinal extraordinário de profundidade de Fé desse povo que hoje é difícil de se encontrar . Mesmo a juventude continua na trilha religiosa dos pais . Isso é formidável! Principalmente para o espírito familiar.
O JR - Uma mensagem para os católicos.
PE. HIGINO - A Igreja é um símbolo da eternidade e de amor paternal de Deus. Um ambiente da Igreja tem que respirar algo de sobrenatural.
- EM REFERÊNCIA À ÉPOCA.
( A ENTREVISTA, FEITA EM MAIO DE 1975, FOI TRANSFERIDA PARA ESTE SITE CONFORME O ORIGINAL )
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