Atualização Profissional: de quem é a responsabilidade?
por Cícero Ribeiro
Há algum tempo não era raro, empresários afirmarem, categoricamente, que a atualização profissional seria uma obrigação do colaborador e não da empresa. Esta perspectiva se sustentava no fato de que o maior interessado seria o próprio colaborador, que estaria tomando posse desses conhecimentos ao se atualizar e o que ele oferecesse à empresa como benefício por esse conhecimento, estaria sendo pago através do seu salário.
Por outro lado, era comum observarmos colaboradores afirmando que a atualização profissional deveria ficar a cargo do empresário. Esse ponto de vista se baseava no fato da atualização ser colocada em prática na empresa e em favor dela, o que traria um retorno imediato para a organização em questão. Compunha também como argumento, o não menos importante fato dos ganhos dos colaboradores em geral não serem muito grandes.
Notamos que ambas as partes, mereciam ser considerados por apresentarem uma logicidade bastante obvia em suas argumentações. Entretanto, o que existia por traz dos dois discursos era um sentimento de individualidade e até mesmo de egoísmo que tornava possível, a um e a outro, imaginar o seu sucesso, sem que, necessariamente, o outro gozasse desse mesmo fim.
Veja como funcionava essa utopia: Um vendedor ganhando rios de dinheiro em uma loja que vai de mal a pior. O dono da empresa vez por outra recorre, humildemente, aos colaboradores para um empréstimo como objetivo de quitar duplicatas que já estavam em cartório.
Ou o contrário: Um empresário, com uma carteira de clientes invejável, carros novos, filhos estudando nos melhores colégios, gozando férias 3 vezes por ano, acumulando riqueza, com colaboradores motivados e competentes, ganhando salário mínimo e sem nenhum programa de incentivo oferecido.
É difícil imaginar que uma situação como essa chegou a existir, Mas, existiu e tive a oportunidade de presenciar na minha cidade natal, funcionários indignados por que o dono da indústria que ia, com a família, para a praia várias vezes por ano.
Após alguns meses do fechamento dessa mesma empresa, observando a melancolia dos ex-funcionários, desempregados então, fiz uma indiscreta pergunta a um deles: "Você deve ter saudade do tempo que o seu antigo patrão ia para praia várias vezes por ano. Não é verdade?" Vocês devem imaginar a resposta.
Da mesma forma já encontrei empresários lamentarem a perda de um colaborador e amargar por meses prejuízos que poderiam ter sido perfeitamente evitados.
Ainda bem que hoje a relação empresário colaborador começa a ser vista de outra forma. Cumplicidade, parceria e sinergia. Eis aqui algumas palavras que tem classificado melhor a relação empresário/colaborador que se transforma a cada dia mais e mais em uma sociedade, em uma parceria.
A filosofia do ganha/ganha tem sido a norteadora dessa relação e não é sem motivos. Afinal, podemos entender que um somente poderá ser bem sucedido, se o outro também o for.
Colaboradores motivados e felizes produzem mais e por consequência, oferecem mais lucro para a empresa o que pode acarretar um melhor salário.
Desta forma seria muito sensato imaginar que a responsabilidade da atualização não seria de um ou de outro, mas de ambos. Afinal, ou ganham juntos ou perdem juntos.
Em Muriaé, mais especificamente, podemos identificar de maneira muito clara um movimento forte no sentido de incentivar a educação continuada dos profissionais do comércio através da atuação da Câmara de Dirigentes Lojistas. A CDL dedica boa parte de suas energias para a promoção de cursos e palestras que tenham como objetivo a atualização desses profissionais. Não se restringindo às empresas associadas, mas às demais organizações dos mais diversos seguimentos, inclusive da indústria local.
Entretanto, essa atitude não reflete o pensamento de toda a classe lojista muriaeense, pois apesar de serem promovidos eventos com relativa freqüência, não é percebida a assiduidade das empresas em participar, pelo menos na maioria dos encontros.
Não podemos, porém, censurar todos os empresários faltosos, pois, há casos em que os próprios colaboradores não manifestam interesse em participar das atividades. Algumas vezes custeados, integralmente, pela empresa.
A esses colaboradores falta um olhar diferenciado sobre suas atividades profissionais. Não se pode mais pensar uma atividade profissional como um serviço apenas, como uma tarefa. Mas, como um olhar que encare a atividade profissional como uma carreira, que precisa sempre ser atualizada com vistas a melhorar os aspectos de produtividade, eficiência e, por que não, salarial.
Não me canso de dizer que todo colaborador está, quando desempenha suas atividades, em uma espécie de vitrine. Sendo observado como se estivesse num grande "Reality Show", não importando em que setor se trabalha, se na linha de frente, como vendedor, ou na retaguarda, dentro de um sombrio escritório. Sempre tem alguém nos observando e nos julgando, para bem ou para mal.
Claro que um profissional que encare a sua atividade como a seriedade de quem tem uma carreira a desenvolver, tende a ser selecionado na grande massa para ser colocado em uma posição estratégica, e, certamente terá um ganho diferenciado por isso.
Diante de tudo podemos dizer que investir na carreira é investir em si próprio. Logo seria uma tolice esperar que alguém tenha a boa vontade de investir em uma carreira que não é sua. Deixo uma citação creditada a Benjamin Franklin que sintetiza tudo o que dizemos até agora: "Esvazia teu bolso em tua mente, e tua mente encherá teu bolso".
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